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terça-feira, 16 de abril de 2013

Único e incomparável



Quem pratica yoga sabe que houve sempre uma vez (ou se calhar todas) onde tivemos tendência a olhar para o tapete do lado e ficarmos ou maravilhados ou estarrecidos com o vizinho do lado. Ou é muito melhor que nós ou não consegue fazer o que nós acabámos de fazer. Disto é que o Ego gosta. As comparações ajudam praticamente nada à nossa vida.




Primeiro, o corpo de um não tem nada a haver com o corpo de outro. Factores como a idade, a genética, o género, a força ou a flexibilidade fazem de nós seres humanos diferentes e essa diferença é para ser celebrada.

Segundo, a prática de yoga não é um exercício físico para chegar com as mãos a lado nenhum, é sim uma maneira de mantermos o corpo saudável (caso nunca tenham reparado as lesões não ajudam o corpo a ficar mais saudável, embora possam ajudar como aprendizagem futura), a mente focada e serve acima de tudo como laboratório de experiências para o nosso dia a dia.

Terceiro, a prática é para nos observarmos, tal como a nossa vida é para sermos nós a viver.

Passarmos a vida em comparações absurdas só nos vai fazer distrair e afastar daquilo que é o nosso caminho. Não somos mais, nem menos do que ninguém, somos todos diferentes nos gostos, nas aversões, e cada um de nós é único e incomparável. 

Único e incomparável.


Namasté

Mafalda Sousa


segunda-feira, 15 de abril de 2013

Everywhere she looked...



Ontem fui abençoada com uma ida à praia, ontem estava bom tempo e o sol brilhava no mar tipo prata. Lindo de morrer. Ontem apercebi-me mais uma vez da sorte que tenho.

Quando tudo é bonito e o dia é perfeito, torna-se mais fácil sentirmos que fazemos parte do todo, e cresce em nós aquela sensação de gratidão por podermos viver com esse conhecimento.

O desafio é também entendermos que quando chove continuamos a ser um. Que na realidade nunca estamos nem sozinhos, nem isolados. Que se chove, a água vem em abundância, e com a água vem sempre vida e movimento.

Da ilusão de solidão nasce tanta acção que sem ser certa ou errada, vai gerar um qualquer resultado que achamos aleatório ou até punitivo.

Quando as acções que fazemos partem do conhecimento de que tudo é um, e que estamos cá todos para o mesmo, então o resultado de cada acção é uma benção, esteja ou não de acordo com as nossas expectativas.

Assim viver nesta apreciação, gratidão e consciência torna-se uma escolha que fazemos a cada momento. Faça chuva ou faça sol, a escolha é sempre nossa. E que melhor maneira de nos lembrarmos disto do que pôr o pé na natureza?

Mergulhem, passeiem, cheirem uma flor, o que quer que vos volte a relembrar que estamos cheios de vida e somos todos parte do mesmo.



Namasté

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Senso comum


Há leis que embora não nos sejam impostas, todos nós partilhamos e queremos viver a todo o momento.

A mais básica de todas é a lei do "eu não quero sofrer".

Enquanto humanidade partilhamos esta premissa, não nos é imposta e não é nada que a nossa mãe tenha de nos ensinar. Muitas vezes aprendemos é da pior maneira.

Mas se enquanto crianças nos dizem que o fogo queima e magoa e mesmo assim vamos lá pôr a mão, temos um resultado da acção óbvio, queimamo-nos. Aposto que não vamos querer voltar a fazê-lo porque sofrimento não é coisa agradável. A não ser que nos esqueçamos do resultado (às vezes somos menos inteligentes do que deveríamos) e pumba, fazemos outra vez e surpresa das surpresas o resultado é o mesmo: queimamo-nos e magoa. (parece que com a idade vamos esquecendo mais facilmente estes ensinamentos básicos, ou não)

Em Sânscrito este valor básico é chamado de Ahimsa, ou a não-violência. Ahimsa é válido para aquilo que fazemos, para a maneira como falamos e até para aquilo que pensamos.
Por exemplo: durante a prática de yoga, estamos naquele momento em que achamos que podemos ir mais meio milimetro embora já estejamos a suar em bica de dor, isso é violência para connosco.
Outro exemplo: entalamos inadvertidamente o dedo na porta e o que sai? "Ca estúpida, como é que eu fiz isto?" (é também de senso comum que quando nos magoamos ou exaltamos comemos letras às palavras e "que" passa a "Ca").
Falar agressivamente connosco ou com os outros é violência, o auto-julgamento é outra forma de violência simplesmente porque nos causa sofrimento.

Então ahimsa é essa não violência em tudo o que fazemos e dizemos para os outros ou para nós. Requer uma mente consciente e em constante observação porque de inicio é um hábito que está instalado, mas aos poucos (que pode demorar momentos, uns aninhos ou até umas vidas) vamo-nos libertando e cada acção passa a ser um exercício de respeito por nós e como consequência natural uma vivência de respeito também pelos outros.

Em vez de olharmos e apontarmos o dedo porque nos magoaram, se calhar é mais proveitoso olharmos para dentro e percebermos onde é que não estamos em Ahimsa, e como o podemos fazer, porque afinal os outros e as atitudes dos outros estão fora do nosso controlo e essas não dão mesmo para mudar. (O tema da aceitação dará mais uns km de texto num próximo episódio ou revejam um dos posts anteriores acerca da aceitação)

Assim, a pergunta é só esta: aquilo que eu estou a fazer ou prestes a fazer vai-me causar sofrimento a mim ou a mais alguém?

Se é tão simples para quê complicar? Seja fisico, seja emocional, seja mental, viver em Ahimsa.

Namasté
Esta foi tirada ontem no Parque nas Caldas da Rainha. Primavera  no seu melhor

Love you all
Peace

PS: Muitas vezes e sem querermos causamos sofrimento aos outros, peço desde já desculpa a quem o fiz. Que tenha o discernimento e conhecimento necessários para viver de acordo com o dharma


quinta-feira, 11 de abril de 2013

Um banho de realidade

Durante muito tempo procurei alguma coisa. Sabia que faltava algo, só não sabia bem o quê. Isso dava-me uma inquietude, uma ansiedade e uma angústia que me parece que alguns de vocês também se podem identificar. Está lá um espaço vazio e fazemos experiências para o preencher com tudo o que encontramos. Uma insegurança latente.

E o que queremos é libertarmo-nos dessa insegurança. O problema está em procurarmos a segurança em coisas que por si só já são inseguras e efémeras, como pessoas ou experiências. 

E podemos viver nisto a vida toda. Há quem consiga enterrar estes sentimentos tão lá no fundo que consegue viver o dia-a-dia como se nada fosse. 

Pessoalmente, passei por essa fase, depois passei pela outra de mandar tudo ao ar. E que fase libertadora foi essa! Foi absolutamente necessário na minha vida e voltaria a fazer tudo na mesma. Tive de passar por isso para fazer as mudanças e construir a vida que realmente queria construir, mas nem isso era necessário, porque embora tenha melhorado o vazio, especialmente a nível profissional onde finalmente me senti realizada, talvez a liberdade da insegurança não fosse o mais importante. Até porque foi essa insegurança e insatisfação que me fizeram andar para a frente. 


O Swami Dayananda fez-me entender o essencial, o que preenche esse vazio não são as mudanças consecutivas de factores externos, nem muito menos preencher os vazios com pessoas ou coisas e fazer uma vida perfeita cheia de corações e felicidade (embora também façam parte e ainda bem), o que eu quero é conhecimento. O que me traz paz é eu conhecer a realidade tal como ela é, é perceber como o mundo funciona, como a minha mente funciona e assim a cada dia trabalhar para Moksha a libertação, que acontece não como que por magia onde tudo passa a ser um conto de fadas, mas como se fosse uma limpeza da nebulosidade que nos impede de nos compreender a realidade daquilo que já somos. 

Esse discernimento (Viveka) leva-nos a perceber o que é real do que é irreal, o que é permanente do que é impermanente e faz as coisas parecerem mais claras e menos difusas.

Meus amigos, que benção que é este banhinho de realidade.

Namasté