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terça-feira, 16 de abril de 2013

Único e incomparável



Quem pratica yoga sabe que houve sempre uma vez (ou se calhar todas) onde tivemos tendência a olhar para o tapete do lado e ficarmos ou maravilhados ou estarrecidos com o vizinho do lado. Ou é muito melhor que nós ou não consegue fazer o que nós acabámos de fazer. Disto é que o Ego gosta. As comparações ajudam praticamente nada à nossa vida.




Primeiro, o corpo de um não tem nada a haver com o corpo de outro. Factores como a idade, a genética, o género, a força ou a flexibilidade fazem de nós seres humanos diferentes e essa diferença é para ser celebrada.

Segundo, a prática de yoga não é um exercício físico para chegar com as mãos a lado nenhum, é sim uma maneira de mantermos o corpo saudável (caso nunca tenham reparado as lesões não ajudam o corpo a ficar mais saudável, embora possam ajudar como aprendizagem futura), a mente focada e serve acima de tudo como laboratório de experiências para o nosso dia a dia.

Terceiro, a prática é para nos observarmos, tal como a nossa vida é para sermos nós a viver.

Passarmos a vida em comparações absurdas só nos vai fazer distrair e afastar daquilo que é o nosso caminho. Não somos mais, nem menos do que ninguém, somos todos diferentes nos gostos, nas aversões, e cada um de nós é único e incomparável. 

Único e incomparável.


Namasté

Mafalda Sousa


2 comentários:

Anónimo disse...

É no andar que o caminho se abre, e mesmo aquele que se estende aberto por entre os arbustos, se renova quando os olhos despertam. Mas de tantas formas embarcamos por caminhos que nos engolem, sem que nenhuma experiência seja feita, caminhos determinados por outros e dos quais acolhemos somente a comodidade e a segurança de já estarem traçados. Kafka di-lo da maneira mais radical possível: “não há caminho, onde o caminho aparece é já hesitação.” pois como faria eu para me acordar a mim mesmo? Se durmo, e o sonho me encaminha por onde quer, não sei de modo nenhum de que forma acordo, mas acordar é dar por si acordado, e esta abertura involuntária, na qual mergulhamos como se caíssemos para cima (falando metaforicamente, pois não se trata de um movimento espacial, mas de outro tipo de movimento). Mas se de modo nenhum me saberia acordar enquanto durmo, senão que dou por mim já acordado, a verdade é que algo podemos fazer para que estejamos mais perto de despertar. É uma particularidade do Homem habitar de um certo modo, e se os seus hábitos fazem o seu habitar, isso implica que são tantas as possibilidades de sermos como o modo de nos relacionar-mos com o tempo. Acredito que a meditação, nos possibilita o estar em contacto com uma presença, com o presente, que na nossa língua tem o maravilhoso dom de significar tanto o que está presente, como o que é oferecido. O que tenho é falta de o fazer.
A escrita é para mim um dos modos em que procuro sentido e em que traço caminho, mas o silêncio que preciso entre cada frase como o ar para a respiração escassa, e ao contrário do habitual não é com barulho que se acorda, o que significa que não tenho escrito.
Desculpa esta intromissão no teu tempo, mas continuo a achar que não nos devemos submeter à solidão a que os tempos nos obrigam, e que se um instinto nos conduzir a partilhar uma palavra que o devemos fazer, cada vez mais nos fechamos sobre nós como caracóis dentro das carapaças. O medo petrifica-nos. Descobri sem querer o teu blog, e lembrei-me de te escrever. Sei que não nos conhecemos bem, mas aqui fica um comprimento amigo. (tio)

Anónimo disse...

esta aproximação foi demasiado formal, mas queria te dizer que fiquei muito contente com as posições que encontrei no teu blog, por exemplo a tua grande desvinculação de uma visão do Yoga como mero desporto ocidentalizado, que o tornaria um ornamento que nos acalmaria o espírito para continuarmos com o mesmo tipo de vida, sem resolvendo nada do desespero subjacente a ela. Mas sim, o yoga que é caminho para o conhecimento, o que implica estar disposto a mudar e principalmente a receber a mudança. o que por vezes passa ao contrário do esperado, por não pressupor um estado de paz, nem o antecipar, mas a desfazer uma série de preconceitos através da experiência. um grande abraço. Ricardo